sexta-feira, 3 de maio de 2013

CANÇÃO DOS CAMPOS DOS LÍRIOS

Por Walter M. Ziebarth


— Me parece um excelente dia para cavalgadas, Ron! — disse Lydia, convidativa.
­— Sim! É sim, querida!  — respondeu Ron, vestindo-se. — E nossos cavalos já nos esperam.
Lydia esboçou um sorriso e começou a vestir-se. Pela janela, admirava a paisagem: o sol da meia-manhã, os pássaros, a grama verde, tudo tão lindo como nas canções dos bardos. Ela imaginava se algum dia fariam canções sobre os dois. Uma canção que descrevesse o amor entre eles. Seria a mais bela das canções! — pensava.
— Eu, realmente, não sei o que fiz pra merecer você, sabia? — confessou Lydia.
Ron sorriu.
— Não seja tola, Lydia. Quem diria que ao meu lado você iria ficar. Você que me faz feliz.
— E você me faz cantar. — replicou Lydia.
Ron aproximou-se e beijou-lhe os lábios. Naquela hora ela soube o quão feliz era e que nada poderia impedi-los de ficarem juntos pelo resto da vida.
Do lado de fora, o cavalariço aguardava o casal com as rédeas em mãos.
— Bom dia, Senhor. Milady. — cumprimentou o cavalariço.
— Bom dia, Edward. — assentiu Ron.
Apesar do sol, fazia frio, assim como todos os dias. Ron ajudou Lydia a subir em um dos cavalos e então subiu em seu próprio.
— Boris não irá acompanhá-los hoje, Senhor? — perguntou Edward.
— Não. Boris está com a família. E, aliás, devia fazer o mesmo, Edward. Ninguém trabalha no Dia dos Deuses.
— Gosto de servir-lhe, Senhor. Mas se for de seu agrado, irei ficar com minha famí­lia.
— Faça isso.  — respondeu Lydia — Somos adultos, Edward, sabemos nos virar so­zinhos.
Cavalgaram por horas. Passaram por montes, bosques e serranias até chegarem à beira do rio. Os cavalos bebericaram ou pouco de água e estavam prontos para partir novamente.
— Está com fome, querida? — Perguntou Ron.
— Um pouco, talvez fosse bom pararmos por aqui e voltarmos, o que acha?
— Concordo.
Os dois então partiram. Ron queria levá-la ao Campo dos Lírios, lugar onde deram seu primeiro beijo e onde Ron planejava pedi-la em casamento, mas, por insistência de Lydia, retornaram ao caminho original. Atravessaram o bosque e os montes até avistarem de longe a casa de Ron. Uma bela casa, diga-se de passagem. Possuía três grandes andares e um jardim era impecável.
Ao longe, Lydia avistou um grupo de homens a cavalo vindo em sua direção. Olhou pra Ron e viu que ele parecia preocupado.
— O que queres em minhas terras, Jared?
         Jared era um patife. Apaixonado por Lydia desde garoto vivia importunando o casal. E, dessa vez, parecia ter exagerado na bebida.
            — Vim lutar por ela. — disse. — Eu te amo, Lydia. Amo como jamais alguém amará.
            — Cale-se! — Repreendeu Ron.
— Você está bêbado, Jared. Volte para casa. — aconselhou Lydia.
— Eu vim lutar por você e é isso que eu vou fazer.
Jared pulou do cavalo, meio desajeitado, e foi pra cima de Ron. Estava desarmado e tropeçava nos próprios pés.
            — Não vou lutar com você, Jared. Não nesse estado. — disse Ron descendo do cavalo.
           Mas o patife nem sequer parou pra ouvir, investiu um soco logo após Ron tocar o chão. Ron desviou e o punho de Jared passou ao seu lado encontrando nada mais que o ar. O bêbado tropicou e caiu ao chão.
                Dois capangas de Jared então resolveram agir. Lydia não fazia ideia de quem eram.
Um era mais baixo e entroncado; o outro era esguio e ambos partiram pra cima de Ron.
                O baixinho agarrou Ron pelas costas enquanto o mais alto socava-lhe o rosto e o abdômen. Lydia começou a implorar que parassem, mas ninguém a deu ouvidos.
            — Vá, Lydia. Saia daqui. — gritou Ron.
           — Não! — berrou ela partindo pra cima dos capangas. Lydia pulou nas costas do que socava Ron e mordeu-lhe a orelha. O homem soltou um berro de dor e então derrubou Lydia.
                Ron era forte e desvencilhou-se do gordo, virou, socou-lhe o rosto e procurou o magrelo. Então os três começaram a trocar socos e pontapés.
Enquanto isso, Jared levantou-se do chão e foi até Lydia, agarrou-a pelo braço e a levantou.
— Solte-me, Jared. Deixe-nos em paz, por favor!
— Você é minha, Lydia. MINHA! — Gritou.
Ele a levou para dentro do estábulo, deu-lhe um tapa no rosto e a jogou ao chão.
— Fique aqui, não quero que veja seu amado morrer. — disse Jared. — Viu como eu tenho consideração por você, minha querida? — segurou o queixo dela — Sabe por quê? Porque EU TE AMO! — gritou mais uma vez. Quando se virou, Ron estava logo atrás dele, assustou-se e tomou um soco no rosto que o fez cair no chão.
Ron levantou Lydia e os dois seguiram em direção à saída. Foi quando Ron sentiu uma dor aguda rasgando-lhe as costas, olhou pra baixo e viu três hastes de metal atravessarem seu abdômen. Lydia gritou desesperadamente. Jared arrancou a forquilha e Ron caiu no chão, estava morto.
Lydia caiu de joelhos, aos prantos. O ódio subiu-lhe a cabeça. Desejou tê-lo matado, desejou de todo coração. Estava bem ali, bem na sua frente, o assassino de Ron, seu amado. Mas nada podia fazer, estava fraca, indefesa e coisa alguma o traria de volta. Pôs-se a pensar porque demônios, no Dia dos Deuses, Eles tinham que levá-lo, se nada haviam feito além de amado demais. E não mais que os Deuses pra saberem que amor no coração dos homens é dádiva, e dádiva não se castiga.
— Viu o que você me fez fazer, Lydia? Viu?
Jared largou a forquilha no chão, assustado, e saiu correndo.
Lydia deitou-se sobre o corpo morto de Ron abraçando-o na tentativa inútil de que ele sentisse e devolvesse o abraço, mas ele se fora, seu amado morrera e nada pudera fazer.

*** 

O tempo passou, quinze invernos para ser exato, e Lydia jamais esquecera Ron, nem por um dia sequer. Tentou seguir em frente, apaixonar-se novamente, mas não conseguiu. Parecia que seu coração estava acostumado com a solidão e, também, já não estava mais na da idade de se casar. Estou velha – pensava. Ninguém mais me quer, e quem me quer não me agrada. Malditos sejam os Deuses!
Há algum tempo ela vinha sonhando com Ron, sempre o mesmo sonho. Ele no alto de um desfiladeiro, chamando-a. Lydia sabia que lugar era aquele, ficava nas terras do Ron, logo após a serrania seguindo o riacho.
Lydia acordou assustada.  O mesmo sonho lhe importunava. Vestiu o primeiro vestido que viu e saiu decidida a encontrá-lo no alto do desfiladeiro. Subiu em seu cavalo, e galopou até as terras de Ron. Passou pelos montes, bosques e serranias até encontrar o riacho. Seguiu o fluxo da água e lá estava o desfiladeiro, mas não havia ninguém.
Tola! O que eu tinha em mente? Ron se foi e jamais vou vê-lo novamente. — Pensou.
Lydia seguiu até a beirada do penhasco.
A não ser que... Oh! Não! Pelos Deuses, o que eu estou pensando? Isso não resolveria nada. Lydia fechou os olhos e viu Ron, ele sorria para ela e abria os braços esperando um abraço.
Quem diria que ao meu lado você iria ficar. Você que me faz feliz. Você me faz cantar.
Quando Lydia abriu os olhos estava sentada no meio do Campo dos Lírios, não estava frio nem quente, um clima agradável e uma sensação de paz. Uma sensação que jamais sentira. Viu Ron se aproximando de braços abertos, caminhando por entre os lírios.
— Oh, Ron. Ainda bem que eu te encontrei.
— Calma, querida. Agora você chegou, tudo se transformou, você veio pra ficar.
— Ninguém mais pode nos separar, Ron. É você que me faz feliz.
— E é você que me faz cantar.

Fim.
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*Conto inspirado na canção Ainda Bem de Marisa Monte.

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