Por Walter M. Ziebarth
— Me parece um
excelente dia para cavalgadas, Ron! — disse Lydia, convidativa.
— Sim! É sim,
querida! — respondeu Ron, vestindo-se. —
E nossos cavalos já nos esperam.
Lydia esboçou
um sorriso e começou a vestir-se. Pela janela, admirava a paisagem: o sol da
meia-manhã, os pássaros, a grama verde, tudo tão lindo como nas canções dos
bardos. Ela imaginava se algum dia fariam canções sobre os dois. Uma canção que
descrevesse o amor entre eles. Seria a
mais bela das canções! — pensava.
— Eu,
realmente, não sei o que fiz pra merecer você, sabia? — confessou Lydia.
Ron sorriu.
— Não seja tola,
Lydia. Quem diria que ao meu lado você iria
ficar. Você que me faz feliz.
— E você me
faz cantar. — replicou Lydia.
Ron
aproximou-se e beijou-lhe os lábios. Naquela hora ela soube o quão feliz era e
que nada poderia impedi-los de ficarem juntos pelo resto da vida.
Do lado de
fora, o cavalariço aguardava o casal com as rédeas em mãos.
— Bom dia,
Senhor. Milady. — cumprimentou o cavalariço.
— Bom dia,
Edward. — assentiu Ron.
Apesar do sol,
fazia frio, assim como todos os dias. Ron ajudou Lydia a subir em um dos
cavalos e então subiu em seu próprio.
— Boris não
irá acompanhá-los hoje, Senhor? — perguntou Edward.
— Não. Boris
está com a família. E, aliás, devia fazer o mesmo, Edward. Ninguém trabalha no
Dia dos Deuses.
— Gosto de
servir-lhe, Senhor. Mas se for de seu agrado, irei ficar com minha família.
— Faça
isso. — respondeu Lydia — Somos adultos,
Edward, sabemos nos virar sozinhos.
Cavalgaram por
horas. Passaram por montes, bosques e serranias até chegarem à beira do rio. Os
cavalos bebericaram ou pouco de água e estavam prontos para partir novamente.
— Está com
fome, querida? — Perguntou Ron.
— Um pouco,
talvez fosse bom pararmos por aqui e voltarmos, o que acha?
— Concordo.
Os dois então
partiram. Ron queria levá-la ao Campo dos Lírios, lugar onde deram seu primeiro
beijo e onde Ron planejava pedi-la em casamento, mas, por insistência de Lydia,
retornaram ao caminho original. Atravessaram o bosque e os montes até avistarem
de longe a casa de Ron. Uma bela casa, diga-se de passagem. Possuía três
grandes andares e um jardim era impecável.
Ao longe,
Lydia avistou um grupo de homens a cavalo vindo em sua direção. Olhou pra Ron e
viu que ele parecia preocupado.
— O que queres
em minhas terras, Jared?
Jared era um
patife. Apaixonado por Lydia desde garoto vivia importunando o casal. E, dessa
vez, parecia ter exagerado na bebida.
— Vim lutar por
ela. — disse. — Eu te amo, Lydia. Amo como jamais alguém amará.
— Cale-se! —
Repreendeu Ron.
— Você está
bêbado, Jared. Volte para casa. — aconselhou Lydia.
— Eu vim lutar
por você e é isso que eu vou fazer.
Jared pulou do
cavalo, meio desajeitado, e foi pra cima de Ron. Estava desarmado e tropeçava
nos próprios pés.
— Não vou lutar
com você, Jared. Não nesse estado. — disse Ron descendo do cavalo.
Mas o patife
nem sequer parou pra ouvir, investiu um soco logo após Ron tocar o chão. Ron
desviou e o punho de Jared passou ao seu lado encontrando nada mais que o ar. O
bêbado tropicou e caiu ao chão.
Dois capangas
de Jared então resolveram agir. Lydia não fazia ideia de quem eram.
Um era mais baixo e entroncado; o outro era esguio e ambos partiram
pra cima de Ron.
O baixinho
agarrou Ron pelas costas enquanto o mais alto socava-lhe o rosto e o abdômen.
Lydia começou a implorar que parassem, mas ninguém a deu ouvidos.
— Vá, Lydia.
Saia daqui. — gritou Ron.
— Não! — berrou
ela partindo pra cima dos capangas. Lydia pulou nas costas do que socava Ron e
mordeu-lhe a orelha. O homem soltou um berro de dor e então derrubou Lydia.
Ron era forte e
desvencilhou-se do gordo, virou, socou-lhe o rosto e procurou o magrelo. Então
os três começaram a trocar socos e pontapés.
Enquanto isso,
Jared levantou-se do chão e foi até Lydia, agarrou-a pelo braço e a levantou.
— Solte-me,
Jared. Deixe-nos em paz, por favor!
— Você é
minha, Lydia. MINHA! — Gritou.
Ele a levou
para dentro do estábulo, deu-lhe um tapa no rosto e a jogou ao chão.
— Fique aqui,
não quero que veja seu amado morrer. — disse Jared. — Viu como eu tenho
consideração por você, minha querida? — segurou o queixo dela — Sabe por quê?
Porque EU TE AMO! — gritou mais uma vez. Quando se virou, Ron estava logo atrás
dele, assustou-se e tomou um soco no rosto que o fez cair no chão.
Ron levantou
Lydia e os dois seguiram em direção à saída. Foi quando Ron sentiu uma dor
aguda rasgando-lhe as costas, olhou pra baixo e viu três hastes de metal atravessarem
seu abdômen. Lydia gritou desesperadamente. Jared arrancou a forquilha e Ron
caiu no chão, estava morto.
Lydia caiu de
joelhos, aos prantos. O ódio subiu-lhe a cabeça. Desejou tê-lo matado, desejou
de todo coração. Estava bem ali, bem na sua frente, o assassino de Ron, seu
amado. Mas nada podia fazer, estava fraca, indefesa e coisa alguma o traria de
volta. Pôs-se a pensar porque demônios, no Dia dos Deuses, Eles tinham que
levá-lo, se nada haviam feito além de amado demais. E não mais que os Deuses
pra saberem que amor no coração dos homens é dádiva, e dádiva não se castiga.
— Viu o que
você me fez fazer, Lydia? Viu?
Jared largou a
forquilha no chão, assustado, e saiu correndo.
Lydia
deitou-se sobre o corpo morto de Ron abraçando-o na tentativa inútil de que ele
sentisse e devolvesse o abraço, mas ele se fora, seu amado morrera e nada
pudera fazer.
***
O tempo passou,
quinze invernos para ser exato, e Lydia jamais esquecera Ron, nem por um dia
sequer. Tentou seguir em frente, apaixonar-se novamente, mas não conseguiu.
Parecia que seu coração estava acostumado com a solidão e, também, já não
estava mais na da idade de se casar.
Estou velha – pensava. Ninguém mais
me quer, e quem me quer não me agrada. Malditos sejam os Deuses!
Há algum tempo ela vinha sonhando com Ron, sempre o mesmo sonho. Ele
no alto de um desfiladeiro, chamando-a. Lydia sabia que lugar era aquele,
ficava nas terras do Ron, logo após a serrania seguindo o riacho.
Lydia acordou assustada. O
mesmo sonho lhe importunava. Vestiu o primeiro vestido que viu e saiu decidida
a encontrá-lo no alto do desfiladeiro. Subiu em seu cavalo, e galopou até as
terras de Ron. Passou pelos montes, bosques e serranias até encontrar o riacho.
Seguiu o fluxo da água e lá estava o desfiladeiro, mas não havia ninguém.
Tola! O que eu
tinha em mente? Ron se foi e jamais vou vê-lo novamente. — Pensou.
Lydia seguiu até a beirada do penhasco.
A não ser que...
Oh! Não! Pelos Deuses, o que eu estou pensando? Isso não resolveria nada. Lydia fechou
os olhos e viu Ron, ele sorria para ela e abria os braços esperando um abraço.
Quem diria que ao meu lado você iria ficar.
Você que me faz feliz. Você me faz cantar.
Quando Lydia
abriu os olhos estava sentada no meio do Campo dos Lírios, não estava frio nem
quente, um clima agradável e uma sensação de paz. Uma sensação que jamais sentira. Viu Ron se aproximando de braços
abertos, caminhando por entre os lírios.
— Oh, Ron.
Ainda bem que eu te encontrei.
— Calma,
querida. Agora você chegou, tudo se transformou, você veio pra ficar.
— Ninguém
mais pode nos separar, Ron. É você que me faz feliz.
—
E é você que me faz cantar.
Fim.
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*Conto inspirado na canção Ainda Bem de Marisa Monte.
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