quinta-feira, 29 de agosto de 2013

ENQUADRAMENTO

Por Rita de Cássia Alves

A ferrugem entra pelos poros e cria o ser metálico.
Desentope as artérias do verde e dos dedos salta a hera.
Era de falanges que apodrecem, mas aparecem máquinas.
Misto de musgo e fuligem, corpos se debatem e são triturados.
Para onde vamos nós, os enlatados, criaturas quadradas, cifradas, 
ameaçadas pela engrenagem?
Estamos à mercê no mecânico dos dias.
Desviamos a rota e o arroto dos canos de escape nos engolem.
Há mais fios desencapados do que a memória suporta:
não cantamos, urramos!
Permitimos que o óleo fique corrosivo e mate a pele-sentimento, 
este animal dentro da gente.


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