quarta-feira, 7 de agosto de 2013

O CALHORDA

Por Gerson Dalla Corte

Não me ajude, não me ajude! Sei levantar sozinho. A não ser que eu escorregue nessa poça de vômito e sangue. Aí, sim, vou precisar de ajuda.
Pronto, tô de pé. Não, a culpa não foi minha. Eu tava aqui, bebendo tranquilamente minha pinga, quando me escorregou a garrafa na cabeça dele. Escorregou só isso. Embora ele tenha merecido.
Mas no fim, o que aconteceu? Por culpa dele um caco entrou no meu dedo, olha só. Daí todo este sangue esparramado. A cabeça dele, partida em duas, não foi nada. O sangue é todo do meu dedo, ó! E o pior, minha pinga se foi pelo chão. Aquele cão ali no canto que bebeu tudo.
Não me ajude, já falei! Vai me contaminar com a sua sujeira. Já não bastam minhas roupas vomitadas...sabe que sou muito suscetível, qualquer gotinha de sangue e passo mal, tonturas, sabe como é. Que bêbado que nada! Vomitei pela minha sensibilidade excessiva.
Essa carteira? Pois então, como ele deu uma cabeçada na minha garrafa e furou meu dedo, exigi reparação de danos. Foi na verdade uma doação que ele me fez, olha só a cara dele, de bruços, arrependido, como se estivesse morto. Arrependa-se de seus pecados!
Não, não preciso de ambulância. E deixe a polícia fora disso! Fique tranquilo, bem tranquilo, que tudo vai ficar bem. Só preciso de uma pinga pra me acalmar. Só uma pinga, só uma pinga...



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