segunda-feira, 6 de maio de 2013

MEU QUERIDO HAPPOO

Por Ricardo Dos Santos

         Meu querido Happoo.

         Você me perguntou uma vez se eu lhe contara tudo o que havia para se saber sobre minhas aventuras. Bem, eu posso honestamente dizer que lhe contei a verdade, mas posso não ter lhe contado toda ela.
         Estou velho agora, Happoo. Não sou mais o elfo que fui um dia. Acho que é hora de você saber o que realmente aconteceu.
         Começou há muito tempo atrás em uma terra muito distante daqui. O tipo de lugar que você não encontra no mundo hoje. Antes da construção da cidade de Olnult, capital de todo o reino, havia uma grande vila no continente gelado. Uma vila onde viviam em paz todas as raças. Homens carpinteiros andando a cavalo, elfos com seus artesanatos baratos e suas ervas malucas, meio-orcs fazendo malabarismo nas ruas e gnomos cantando e se prostituindo - a maioria deles é bixa, querido sobrinho. São muito gente boa, mas bixas. Não posso me esquecer dos anões martelando e fundindo metal para criar armas mortais capazes de arrancar a cabeça de um elefante apenas com um golpe, além de lindas e encantadoras bijuterias. 

         Nessa vila cresceu um menino órfão,  mas não era um menino qualquer. Seu nome era Suhtrak. Alguns diziam que o menino era filho de dragões e, por uma maldição antiga, estava preso a uma forma humana.
         A idade de Suhtrak era desconhecida. Ele foi encontrado ainda criança e continuou nessa fase por muitos anos além do normal. Isso fazia com que os pais das outras crianças tivessem medo dele e não deixassem que seus filhos brincassem com o garoto. Além disso as lendas em torno do menino alimentavam gozações e piadas sobre a sua idade. Existia o boato de que se alguém descobrisse a idade do menino ele mudaria para a forma de dragão e concederia uma recompensa ao descobridor, por tê-lo libertado de sua forma amaldiçoada. Mas isso nunca aconteceu e menino cresceu sozinho enfurnado nas bibliotecas, em meio a pergaminhos, livros, runas e cristais arcanos, se especializando e aprendendo tudo sobre magia.
        Após mais de 200 anos ele chegou a fase adulta, esqueceu as mágoas do passado e se tornou um grande mago. Para simbolizar essa mudança e mostrar que realmente não guardava más recordações do povo da vila ele mudou seu nome e ficou conhecido como Karthus, o Velho. Karthus atuou durante muitos anos ajudando os cidadãos e protegendo a vila de ameaças externas, principalmente do lado de fora da muralha.
        Mas um dia algo terrível aconteceu.
        Um dragão ancião chamado Thuulak veio a vila e a destruiu quase que por completo. Na tentativa de salvar as pessoas, Karthus acabou morrendo. O dragão se transformou em homem e, através de um ritual de necromancia, fundiu seu espírito ao corpo de Karthus e se transformou em uma criatura que devastava tudo por onde passava. A terrível besta assolou todas as terras transformando tudo que era vivo e cheio de cores em um triste deserto repleto de fogo e sofrimento. Homens, elfos, gnomos, anões, meio-orcs e todas as outras raças, inclusive do Forgotten Realms, se tornaram escravos da ira da criatura.
         Em meio a essa desgraça um pequeno grupo formado por druidas, magos e um paladino se reuniu para tentar drenar o poder da fera. Para tal eles reuniram essências das principais raças: um fio de cabelo de um elfo, o sangue derramado de um homem em uma batalha, o dente de um anão quebrado por sacrifício, a unha de um orc arrancada pela justiça e o sorriso de um gnomo que há muito tempo não lembrava o que era felicidade.
         Através desses elementos Malfurion, o mais poderoso mago do grupo, conseguiu criar um artefato poderoso, capaz de absorver muito poder e guardá-lo por muito tempo sem problemas. Esse artefato se chamava Silmir.
         Numa batalha de meses o grupo conseguiu banir o espírito do dragão ancião para outra dimensão e libertar o corpo de Karthus, que, após alguns meses desacordado, conseguiu voltar a vida.
         O poder do dragão foi colocado na Silmir e, para manter o poder selado e sem risco de ser libertado novamente, ela foi quebrada em 20 pedaços, que foram distribuídos a representantes das três raças principais. Três pedaços para os Reis dos Altos Elfos da Luz. Nove para os Homens Mortais, que choraram ao receber os pedaços pois eles representavam seu povo livre. Sete pedaços para os Anões, que os guardaram em seus salões de pedra, nas montanhas. O ultimo pedaço, a parte central da silmir, era também a parte principal, e muitos acreditavam ser a única parte da joia Ela era a unica respondia à chave da Silmir e tinha o poder de localizar os outros fragmentos. Este pedaço ficou com Malfurion, que nunca mais foi visto.
         Após anos de prosperidade e paz os cidadãos da antiga vila se espalharam pelo Continente Verde e o Continente Seco, fundando as principais cidades e vilas que conhecemos hoje. Karthus sentiu medo do que seu poder era capaz, então criou uma torre mágica no Continente Verde, de onde evitava sair para não expor mais ninguém aos riscos de sua magia.
         Foi aí, meu querido Happoo, que eu entrei. Pois um pouco pelo acaso e pelo desejo de um mestre, o destino decidiu que eu deveria fazer parte desse conto. Mas eu não estava sozinho. Tinha comigo companheiros valentes, pontuais, dispostos a ajudar o grupo, sóbrios e, acima de tudo, unidos.
         Nunca me esqueço daquele dia. Uma bela madrugada de sexta para sábado quando eu (seu velho tio Veidth), um simpático e confiante mago meio-elfo, um valente e acordado homem guerreiro, um anão sóbrio e atento, um gnomo bardo (heterossexual) que era pontual e nunca se atrasava para nenhuma reunião e, talvez, um outro gnomo druida muito velhinho que nós conhecemos por aí, nos reunimos para buscar a Silmir. Ah, também tínhamos um outro companheiro, mas eu nunca o vi de verdade. Era uma voz que gritava do céu. As vezes falava comigo coisas do tipo: “rola um d20” ou “tu não conseguiu e os dois guardas tão vindo na tua direção”. Realmente uma figura encantadora mas muito enigmática.
         Tudo começou. Bom, começou como você deve imaginar. Numa toca debaixo da terra vivia um Halfling. Não uma toca desagradável, suja e úmida, cheia de minhocas e com cheiro de mofo. Era a toca de um Halfling. E isso significa: comida, uma lareira quente e todo o conforto de um lar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário